Pular para o conteúdo principal

A ilusão que alimenta a disrupção

Startupi

A ilusão que alimenta a disrupção

*Por Helena Prado

Uma das grandes diversões, e também um enorme desafio, que o Web Summit Lisboa traz todos os anos para seus mais de 70 mil congressistas é acompanhar o tsunami de startups que apresentam suas ideias, produtos e soluções durante os três dias do evento.

É uma jornada do tipo “piscou, perdeu”: as startups se apresentam em apenas um dia. Amanhã, outra empresa ocupará aquele mesmo espaço. E isso reflete o dinamismo do mercado: o que hoje é novidade, amanhã é passado.

Para lidar com toda essa intensidade, os empreendedores precisam ter o que o músico Pharrell Williams definiu, logo na abertura do Web Summit Lisboa 2024, como “uma colher de sopa de ilusão”. Aquela certeza absoluta de que o caminho que você está trilhando é o correto. Um olhar que molda tudo o que você vê, respira ou sente. 

Em três dias, 3 mil “iludidos do bem” que têm uma visão distorcida da realidade – a ponto de ter total confiança no sucesso. Pois, no fundo, essa “colher de sopa de ilusão” é fundamental para temperar a dura jornada empreendedora.

Muita gente dizia que Steve Jobs tinha uma espécie de “campo magnético”, que fazia com que suas ideias, por mais estranhas que fossem, tivessem sentido para quem as ouvia. Tom Hale, o CEO da Oura, startup que desenvolve um anel que monitora a saúde dos usuários, colocou de uma forma um pouco diferente: é preciso ter fortes crenças, mas ao mesmo tempo seria burrice não ouvir os clientes.

O que 3 mil startups fazem, durante o Web Summit, é conversar com quem surge à sua frente. De inúmeras interações vêm iterações de produtos, do pitch e até mesmo do posicionamento. A intensidade e a velocidade com que isso tudo acontece cria um caldo de transformação capaz de fazer a diferença para os negócios.

Abraçar a disrupção

A “colher de sopa de ilusão” com certeza molda o sentimento de cada empreendedor. Me incluo nesse grupo, pois a PinePR é uma agência nascida de um sonho e que passou por muitos momentos em que não era claro qual seria o próximo passo. Nesses momentos, ter uma postura positiva sobre a mudança pode ser muito positivo.

A palavra “disrupção” costuma evocar sentimentos contraditórios. De um lado, é ameaçador imaginar que algo que parecia seguro deixará de fazer sentido. Mas se você é quem está promovendo a mudança, ela é empolgante. Talvez devêssemos adotar uma postura diferente: abraçar a transformação e entender que ela não só é inevitável, como desejável.

Atuando no ecossistema de mídia, temos visto as transformações acontecerem, onda após onda. A atividade de relações públicas parecia mais simples no passado: era um sistema aparentemente estável, com alguns meios de comunicação estabelecidos e canais de relacionamento estruturados. Por outro lado, havia muito menos oportunidades para fazer algo diferente.

Do impresso para o rádio, para a TV, para a internet, para os podcasts, mídias sociais, influenciadores digitais e, cada vez mais, a Inteligência Artificial. A produção de conteúdo vem continuamente se transformando, fragmentando o ecossistema e criando diferentes possibilidades para indivíduos, marcas e negócios. O kit de ferramentas do profissional da área continua se transformando – esse processo nunca vai parar.

Para lidar com a contínua disrupção, é preciso atuar com ampla liberdade, aprendendo sempre e modernizando discurso, técnicas e tecnologias. Para jornalistas e comunicadores em geral, aprender a trabalhar com base em dados se torna essencial. Usar KPIs e ferramentas analíticas para entender o alcance da sua comunicação (e como corrigir os caminhos) passa a ser uma exigência natural.

Abraçar a disrupção e a tecnologia significa manter um olhar fresco, renovado, sobre o que acontece no mundo. Cristalizar certezas? Só em relação ao caminho empreendedor. A vida se torna um eterno processo de pivotar: testar, medir, aprimorar, repetir.

Quando isso acontece, a certeza da impermanência das coisas passa a ser libertadora. Uma startup que tem um dia para promover sua solução para quem passar em seu estande, ou uma marca que é entrevistada em um podcast, têm um senso de urgência semelhante. É preciso agir no agora, e é melhor fazer algo hoje do que perder o timing na tentativa de ser perfeito.

Entender que a perfeição não existe também traz mais empatia. Não é possível ganhar todas ou acertar sempre. Mesmo um atleta multicampeão, como o britânico Mo Farah, com seus 4 ouros olímpicos (ele também palestrou no Web Summit 2024), perdeu mais provas do que venceu ao longo da vida. O que faz a diferença é o aprendizado em relação ao erro.

Encarar cada momento como uma oportunidade de melhorar é uma forma consistente de abraçar a disrupção. E esse é um exercício diário que todos nós empreendedores devemos fazer – mesmo que estejamos com aquela “colher de sal de ilusão” que traz a certeza do caminho correto.

*Presidente executiva e sócia-fundadora da PinePR, agência de relações públicas especializada no segmento de tecnologia e inovação. Graduada em Jornalismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, possui um MBA pela FIA, pós-graduação em Marketing pela Universidade de São Paulo (USP) e especialização em Marketing Intelligence pela NOVA IMS, em Lisboa.


Aproveite e junte-se ao nosso canal no WhatsApp para receber conteúdos exclusivos em primeira mão. Clique aqui para participar. Startupi | Jornalismo para quem lidera inovação!

O post A ilusão que alimenta a disrupção aparece primeiro em Startupi e foi escrito por Convidado Especial



Continue Lendo: Startupi / https://startupi.com.br/a-ilusao-que-alimenta-a-disrupcao/

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

4 dicas para startups que desejam captar o primeiro investimento

Startupi 4 dicas para startups que desejam captar o primeiro investimento Nos últimos anos, o Brasil vem apresentando um grande potencial para startups que desejam captar o primeiro investimento para expandir seus negócios. Para ilustrar, em 2023, segundo dados do Distrito, no Brasil, o setor angariou US$1,9 bilhão, já na América Latina os valores chegaram a US$3 bilhões – captações mais baixas do que anos anteriores, mas que representaram grandes montantes. Agora, com uma expectativa favorável de mercado, as previsões são de aumento cauteloso dos investimentos. Porém, com as novas oportunidades, também é importante que os fundadores apresentem projetos assertivos e com bom um modelo de negócio. Para Erica Fridman, investidora e cofundadora da Sororitê, maior rede de investidoras-anjo do Brasil, “para empresas early-stage em busca de capital, a capacidade dos fundadores de explicar o negócio de maneira clara e demonstrar seu potencial de escalabilidade é fundamental para garantir

É hora das startups se prepararem para receber investimentos!

Startupi É hora das startups se prepararem para receber investimentos! * Por Jéssica Lima Os especialistas são unânimes: temos indícios de que 2024 será um ano melhor para as startups se comparado aos anteriores. O ano de 2022 nos surpreendeu com a crescente onda de layoffs e uma queda considerável no número de startups chegando ao status de unicórnios. Isso porque, enquanto os anos anteriores haviam trazido uma abundância de investimentos para startups, o momento já não era tão positivo e os investidores começaram a ser mais cautelosos na avaliação dos investimentos.  O cenário se manteve durante 2023, mas agora já é possível ver sinais de melhoras. As perspectivas são positivas, mas isso não significa que os investidores estarão dispostos a apostar suas carteiras. As startups precisam estar preparadas e atentas se pretendem buscar um incentivo financeiro em 2024. O primeiro ponto que vale para startups em qualquer fase de desenvolvimento é ter um pitch bem estruturado. É hora d

Estratégias e técnicas de captação para times fundadores de startups

Startupi Estratégias e técnicas de captação para times fundadores de startups A jornada de construir e escalar uma startup é uma verdadeira montanha-russa de emoções, conquistas, e muitos desafios fazem parte dessa jornada. Um dos maiores obstáculos é ter capital para financiar o crescimento do seu negócio. Segundo dados da CB Insights, 29% das startups fecham por falta de recursos financeiros. Existem diferentes maneiras para o time fundador financiar a sua startup. Enquanto alguns utilizam recursos próprios, o chamado bootstrapping, outros recorrem para investidores externos, como, por exemplo, família, amigos, investidores-anjo, fundos de venture capital,fundos de private equity, prêmios eaté o governo. Independentemente do caminho escolhido, é fundamental entender não apenas  estratégias e técnicas de negociação, como também qual o racional que baseia as decisões dos investidores. Isso se torna ainda mais importante quando você está no início da sua jornada de captação, pois a