A notícia mais comentada da economia em 2019 talvez seja a Selic caindo cada vez mais, registrando recordes sucessivos na casa de um dígito. O desemprego não arrefeceu, a economia ainda não decolou, mas a inflação está sob controle e os juros básicos em um patamar histórico.
Diante desta realidade, você talvez tenha pensado em sair da renda fixa. Eu sei como você está se sentindo, caro investidor, mas não adianta ficar apavorado, nem tampouco acreditar que a renda fixa morreu – que é o que algumas pessoas têm dito por aí.
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Selic caindo: ainda faz sentido investir na renda fixa?
De forma objetiva e resumida, sempre fará sentido investir na renda fixa. Títulos de países desenvolvidos são considerados um “porto seguro” por investidores do mundo todo, tanto institucionais quanto individuais – de 50 a 60% dos investimentos de fundos de pensão, por exemplo, estão em títulos e outros produtos conservadores.
Mesmo com a Selic caindo, três fatores seguirão tornando a renda fixa um importante aliado na construção de patrimônio sustentável de longo prazo:
1. Retorno conhecido (e previsível)
O nome “renda fixa” reflete exatamente a característica mais objetiva deste tipo de investimento, que é a possibilidade de saber, de antemão, quanto será a rentabilidade. Pré-fixado (rentabilidade fechada) ou pós-fixado (rentabilidade associada a um indicador), as regras para o retorno são conhecidas antes de o investidor aplicar seu dinheiro.
2. Liquidez
Via de regra, a maioria dos investimentos conservadores da renda fixa oferece comodidade para acesso ao dinheiro, com liquidez imediata ou em poucos dias. A facilidade para transformar a aplicação em dinheiro é um pilar importante da formação de reservas para emergência e aplicações de curto prazo.
Carências maiores também existem (casos de CDBs, LCs, LCI/LCA e Debêntures), mas as regras de resgate são claras e a rentabilidade conhecida (item anterior), o que contribui para que a liquidez possa ser considerada como parte do planejamento (investimentos de renda fixa que vencem no curto, médio e longo prazos devem ser considerados).
3. Baixo risco
Os investimentos conservadores são aqueles que oferecem baixo risco ao investidor, o que se traduz basicamente em uma oscilação menor do patrimônio investido diante de crises ou situações de pânico nos mercados financeiros.
A renda fixa é, portanto, a categoria ideal quando o investidor vai iniciar seus investimentos e formar suas primeiras reservas financeiras, com ou sem Selic caindo.
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Selic caindo: por aqui ficamos mal acostumados
A renda fixa tem seu retorno atrelado ao movimento da taxa Selic, e isso é sempre bom lembrar e entender. De forma simplista, quando a Selic sobe, a rentabilidade dos produtos conservadores se eleva; se a Selic está caindo, com ela cai o retorno das aplicações de renda fixa.
Um breve histórico da variação da Selic mostra como seu comportamento acabou deixando muitos brasileiros muito mal acostumados: no fim de 2005, era de 18% ao ano; três anos depois, em 2008, era de 13,75% a.a.; no primeiro trimestre de 2010 chegou a 8,75% a.a.; em 2016 bateu 14,25% a.a.; em 2019 despencou para 5,5% (medos de outubro, quando este texto foi escrito).
Nos anos em que a Selic estava acima de dois dígitos, os investidores da renda fixa tinham rentabilidade real (descontada a inflação) de 4,5% a 7% ao ano. Em outubro de 2019, essa realidade mudou para 2% ao ano. Um ganho real considerável, mas distante do experimentado em anos anteriores.
Selic caindo: duas alternativas na renda fixa que você pode considerar
Vamos com calma. Antes, um recado: você não deve abandonar os investimentos na renda fixa tradicional porque a Selic está caindo. Você deve também investir em outras alternativas e, na medida em que for aprendendo e conhecendo mais sobre elas, balancear melhor sua carteira.
Com a Selic caindo, é importante que você busque também diversificar dentro da própria renda fixa. Neste sentido, vale conhecer melhor as duas alternativas abaixo:
1. Títulos públicos de longo prazo (Tesouro IPCA)
Investir em títulos de longo prazo pode ser interessante para duas estratégias:
- Segurar taxa no longo prazo: se a Selic continuar caindo, ao investir em um título de longo prazo Tesouro IPCA agora você segura uma taxa real melhor para o futuro. Isso significa melhor rentabilidade diante das opções a serem oferecidas com a Selic caindo;
- Venda antecipada com lucro: se a Selic continuar caindo, ao investir em um título de longo prazo Tesouro IPCA agora você garante possuir um ativo que será muito procurado mais adiante, uma vez que as taxas oferecidas no futuro serão menores que as que você garantiu atualmente. Você pode vender antecipadamente e ter lucro.
Alerta: não há garantia de que estas estratégias apresentadas se materializem, o que depende do cenário econômico e das variáveis já citadas (Selic e IPCA, principalmente). A discussão gira em torno de entender o que pode acontecer e vislumbrar alternativas para maximizar os ganhos diante da (nova) realidade econômica.
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2. Fundos de Debêntures Incentivadas
As debêntures são títulos de dívida emitidos por empresas. As debêntures incentivadas (Lei 12.431/11) são uma alternativa para empresas captarem recursos a serem usados em projetos de infraestrutura. Para o investidor, a vantagem é a isenção de Imposto de Renda (IR).
Por que as debêntures incentivadas são interessantes como investimento? Porque seu retorno costuma ser um pouco maior que o oferecido pela renda fixa tradicional dos fundos DI e títulos em geral (públicos e privados).
Os fundos de debêntures incentivadas têm vantagens sobre a compra de uma debênture específica:
- Diversificação com aporte inicial menor: investir em debêntures incentivadas através de fundos permite que o investidor tenha títulos de dívida de mais empresas a partir de um investimento inicial mais baixo;
- Risco mais baixo: os fundos compram títulos de dívida de muitas empresas (item acima), e isso significa também que a exposição ao risco é menor. Se o investidor compra um título sozinho e a empresa quebra, ele perde seu dinheiro; se o fundo também tem títulos dessa empresa, ele sofre, mas não tanto porque ele também tem outras empresas na carteira;
- Liquidez facilitada: no fundo, o investidor sabe as regras de liquidação e basta pedir o resgate para recuperar seu dinheiro. Ainda que isso também seja possível com uma debênture diretamente, o procedimento requer muitas vezes contato direto do investidor com a corretora, não apenas uso do App ou site.
Selic Caindo: Conclusão
A taxa Selic caindo não é exatamente uma novidade, então a questão que realmente fica é: seremos capazes de manter a Selic em um dígito de forma sustentável, por muito tempo e atravessando governos? Não arrisco uma resposta, embora deixe claro meu desejo de que isso aconteça.
Enquanto vamos avançando com estas expectativas e algumas mudanças reais na economia, é importante saber o que fazer com o patrimônio e compreender que o balanceamento da carteira deve ser gradual e inteligente.
Se você é um investidor iniciante, comece buscando diversificar melhor dentro da própria renda fixa, passando então para outros investimentos. A Selic caindo é um fator importante para disparar a mudança, que deve ser feita com calma, paciência, disciplina e estratégia.
------ Este artigo foi escrito por Conrado Navarro. Este artigo apareceu originalmente no site Dinheirama.A reprodução deste texto só pode ser realizada mediante expressa autorização de seu autor. Para falar conosco, use nosso formulário de contato. Siga-nos no Twitter: @Dinheirama
Fonte: Dinheirama
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