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Venture Capital? “Não sei, só sei que foi assim…”
* Por Carol Strobel
De um lado temos empresas de capital aberto sofrendo uma redução significativa do seu valor acionário e do outro, o fantasma da persistência inflacionária, acrescido do aumento das taxas de juros.
Não sou macroeconomista, mas sei que períodos inflacionários e a tentativa do seu controle por meio de aumento de juros têm um efeito extremamente danoso nos investimentos em inovação. Como investidora, olho para estes períodos como mais um ciclo de oportunidades, com a cautela de reforçar o foco na escolha dos melhores times fundadores e modelos de negócio.
Estamos diante de um momento no qual investidores e times fundadores precisam repensar os tamanhos das últimas rodadas de investimento: ou porque o capital disponível para investir em inovação reduziu-se globalmente, com a realocação de investidores para outros ativos; ou porque as startups podem ter sido avaliadas com base em potenciais de crescimento inadequados para o momento econômico. Em qualquer dos cenários, a consequência passa, obrigatoriamente, por uma necessidade de reavaliação do portfólio dos fundos de venture capital. Essa eventual correção de valores, deve ser refletida nas cotas dos primeiros trimestres de 2023 e fazem parte de um movimento cíclico natural deste tipo de investimento.
É fato que o momento traz preocupação. Cada startup precisa, além de entender muito bem o seu espaço de investimento, perceber que, apesar dos decacórnios e unicórnios enfrentarem as maiores dificuldades, pois o capital de crescimento disponível no Brasil passa por alguns soluços e o mercado de capitais não está em um momento passível de ser considerado como fonte de financiamento para esta galera que depende de acesso a novos mercados e consome muito capital, o mercado de startups com avaliações abaixo de U$500M vive um cenário melhor, apesar da pouca atividade. Já o capital semente, early stage, segue sendo o mais vibrante de todos, porque é a boca mais larga do funil e vai demorar mais para enxergar os efeitos de desvalorização mais explícita nas séries de investimento mais avançadas.
Não estamos diante de uma crise de falta de capital. Os fundos de venture capital brasileiros, que levantaram mais de dez bilhões de dólares somente no ano passado, ainda têm bastante capital para investimentos futuros. Me preocupa, entretanto, a procrastinação de decisões por parte de algumas startups, aquietadas e assustadas com o momento de mercado.
Com elas divido a seguinte reflexão: tenho visto investidores e times fundadores encarando este período como uma oportunidade, apesar dos casos de redução de valor das empresas. Este é a hora de as startups enfrentarem os seus próprios fantasmas e olharem com cuidado para os seus fundamentos, estratégias e métricas, tomando decisões importantes acerca do seu crescimento nos próximos anos.
Devem repensar, inclusive, qual o melhor perfil de liderança e estratégia para o momento. Imaginar que um modelo SaaS (software as a service) permanecerá com o mesmo valor em um mercado onde todos os comparáveis de capital aberto estão sendo afetados é pouco realista. Assim como não parece sábio esperar que uma empresa com menos de doze meses de caixa não precise considerar algum corte de custos significativo. Existem outros mundos de alta eficiência e estratégia forte, que precisam seguir em frente: o show deve continuar.
O fato é que não há como saber em que posição estamos no ciclo dos investimentos e, provavelmente, teremos muitas ondas pela frente. O poço pode ser ainda mais fundo, ou o mercado pode ser ainda maior.
Para quem tem a experiência de vários ciclos de investimento, este é só mais um momento de correção. Tenho a confiança de que, a longo prazo, os anos de 2022 e 2023 certamente serão vintages de sucesso. Precisamos lembrar que as empresas de maior sucesso foram criadas em anos de crise. Por isso, agora o momento é de investir no early stage, focando na escolha dos melhores times fundadores e modelos de negócios. Como investidora, acredito na diversidade do portfolio e na consistência do suporte às startups. Agora é a hora em que os bons investidores adicionam mais valor ainda, principalmente para apoiar e dar consistência às escolhas estratégicas dos times fundadores.
E termino citando novamente Ariano Suassuna para inspirar a todos nós: “O sonho é que leva a gente para a frente. Se a gente for seguir a razão, fica aquietado, acomodado.”
Carol Strobel é Sócia fundadora da Antler no Brasil e sócia operacional da Redpoint eventures, com mais de 20 anos de experiência em investimentos em tecnologia, construção de negócios e projetos de transformação digital. Foi diretora da Intel Capital para a América Latina por mais de uma década e diretora de inovação de empresa de capital aberto. Consultora digital reconhecida e conselheira de empresas de capital aberto.
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