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Por que o mercado de tecnologia vive um déficit de mão de obra?

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Por que o mercado de tecnologia vive um déficit de mão de obra?

* Por Eduardo Consomano

Nos últimos meses, poucos assuntos ocuparam tanto as discussões envolvendo o mundo dos negócios e da tecnologia quanto a onda de demissões em massa vivida pelas startups. No entanto, mesmo assim, ainda há muitas vagas em aberto para profissionais como desenvolvedores, designers de experiência do usuário, dentre outros. Como entender este aparente paradoxo?

O aceleramento da transformação digital no Brasil se deu num contexto muito favorável à disrupção de modo geral. Com a pandemia e suas respectivas medidas de restrição, as startups e empresas baseadas em tecnologia foram essenciais para manter a economia funcionando.

Somado a este favor, os juros estavam muito baixos, o que atraiu investidores para ativos de renda variável, entre eles, as startups. Isso fez com que elas batessem recordes de investimento, contratassem para crescer, e ainda por cima, se tornaram alvo de disputas milionárias entre grandes corporações ou até mesmo startups em estágios mais avançados, interessadas em comprá-las.

No entanto, a subida da taxa global de juros, aliada a outras questões macropolíticas e econômicas – como a Guerra na Ucrânia – reduziu o apetite outrora voraz dos investidores, provocando um efeito de enxugamento nas equipes de startups, essencialmente alguns unicórnios que estavam usando capital externo para crescer em alta velocidade. Com a torneira de investimentos fechada, essas empresas acabaram demitindo para, entre outros pontos, equilibrar o caixa.

Dessa forma, é preciso considerar alguns pontos:

Embora algumas empresas tenham realizado demissões, alguns problemas mais estruturais permanecem, o que mantém a busca por profissionais de tecnologia absolutamente aquecida.

O primeiro ponto é que existe uma forte demanda dos países ricos em busca de gente qualificada na área de tecnologia, e o profissional brasileiro acaba recebendo muito mais e custando muito menos. Esse contexto, claro, eleva o salário no mercado nacional e gera déficit de mão de obra, afinal, ainda que pague bem, o Brasil não consegue concorrer com os países de primeiro mundo.

Além disso, ainda que as demissões tenham ocorrido, elas aconteceram também em decorrência da expansão acelerada do mercado, mas essa aceleração não estava – e ainda não está – ocorrendo na ponta da formação. Ou seja, ainda têm mais vagas do que profissionais qualificados para elas.

Daí este cenário, que constitui uma das contradições mais curiosas do ecossistema de inovação atual. Há ainda oportunidades para inúmeros profissionais de tecnologia no mercado, mas a formação deles é um desafio que tem mobilizado distintas organizações, iniciativas privadas e governamentais e membros da sociedade civil.

Penso, por exemplo, em empreendimentos como a Sirius, edtech brasileira e a primeira neouniversidade da América Latina, isto é, uma Instituição de Ensino Superior que dispõe de uso intensivo de tecnologia, ensino baseado em criação, flexibilidade e conexão direta com desafios das empresas empregadoras. Alinhada às necessidades do mercado de trabalho, os cursos se dedicam à preparação de pessoas para ocuparem cargos importantes em negócios como startups e demais empresas focadas em tecnologia e inovação.

O que acredito firmemente que devemos levar em conta é que este não é apenas um mercado em expansão ou retração, mas sobretudo um mercado em construção. Apenas agora os profissionais estão se desenvolvendo adequadamente, dialogando tanto com a academia quanto o mercado, e construindo suas carreiras já dentro do ecossistema de inovação.

Quando o tema é negócios e tecnologia, afinal, acredito que estamos apenas no início de um processo intenso e transformador, assentando as bases de uma nova economia que vem, por vezes aos poucos, por vezes intensamente, transformando radicalmente nossas vidas.


Eduardo Cosomano é jornalista, fundador da agência EDB Comunicação, e coautor do best-seller Saída de mestre: estratégias para compra e venda de uma startup, e do recém- lançado Ouvir, Agir e Encantar: a estratégia que transformou uma pequena empresa em uma das líderes do seu setor, ambos publicados pela Editora Gente.

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