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Além das estatísticas: como as mulheres estão mudando o perfil do empreendedorismo no Brasil
O empreendedorismo já é uma realidade para mais de 10 milhões de mulheres brasileiras, o que representa 40% dos trabalhadores autônomos no país. O caminho que leva cada mulher ao empreendedorismo é variável e consideravelmente individual, originado de sonhos, necessidades, independência e flexibilidade, complementação de renda, alternativa ao desemprego, realização pessoal e observação de oportunidades em mercados.
Qual o perfil da brasileira empreendedora?
O Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) traçou um perfil das mulheres autônomas no país, revelando que, em média, elas têm 41 anos e iniciam seus negócios por volta dos 32. A maioria é solteira ou divorciada, pertence às classes C, D e E e tem uma renda familiar entre um e cinco salários mínimos. Em relação à escolaridade, 60% concluíram, no máximo, o ensino médio. Além dos desafios do empreendedorismo, seis em cada dez também são as principais responsáveis pelo lar, conciliando o trabalho com as tarefas domésticas.
Duas mulheres fora da curva no perfil de empreendedorismo feminino
Apesar do perfil traçado por pesquisas, muitas mulheres se enxergam no empreendedorismo muito antes – ou depois – dos 40. Loraine Burgard, por exemplo, é uma das fundadoras da healthtech h.ai, uma startup de saúde digital que visa democratizar o acesso à saúde no Brasil e que já atendeu mais de 40 mil pessoas por meio de telemedicina ampliada a partir de cabines, totens e maletas, que funcionam como Unidades Digitais de Saúde (UDS).
A executiva é francesa e veio para o Brasil com 13 anos, se formou em comunicação social e iniciou sua jornada profissional no mundo publicitário, no qual contribuiu ativamente para mudanças disruptivas, como a implementação do primeiro serviço de TV por Assinatura no Brasil, novos modelos de agência e desenvolvimento do mercado de clubes de assinatura. Além disso, Loraine empreendeu com marca própria de joias e chocolates.
Para a Burgard, as competências que a levaram para sua atual posição de liderança são: disposição ao novo, ter um inconformismo positivo, ter qualidades de um “maratonista” e, principalmente, um olhar para as pessoas. Aos 54 anos e mãe de dois filhos de 27 e 13 anos, Loraine pontua que o processo de empreender para a mulher e mãe no Brasil exige uma estrutura complexa por trás. “É preciso ter além de um firme propósito e uma rede de apoio. As mulheres têm jornadas duplas, triplas até, o que muitas vezes vai demandar uma dinâmica de trabalho diferenciada, exigindo uma dedicação ainda mais intensa para que não desistam no meio do caminho”, explica.
Já para a carioca Nara Iachan, cofundadora da Cuponeria e da Loyalme, a trajetória empreendedora começou cedo e com desafios diferentes. A executiva iniciou sua carreira aos 20 anos, quando estudava economia no Rio de Janeiro, ainda com pouco conhecimento e experiência. A empresária se juntou a Thiago Brandão e Lionardo Nogueira para fundar a Cuponeria, que introduziu a cultura de cupons no Brasil, e alguns anos depois, a Loyalme, startup spin-off do seu primeiro empreendimento e que atua em soluções de fidelização.
“Quando começamos, em 2011, com o propósito de trazer inovação e praticidade para o mercado brasileiro, o cenário de startups ainda era pouco desenvolvido, especialmente para as mulheres. Lembro que nos primeiros passos da empresa existiam poucas mulheres ocupando cargos de liderança, o que dificultou encontrar exemplos que refletissem a líder que eu buscava ser”, conta a CMO.
Atualmente, apenas 19,7% das pessoas que fundaram startups no Brasil são mulheres, segundo o Mapeamento do Ecossistema de Startups de 2023, realizado pela Associação Brasileira de Startups (Abstartups). Dentro desse percentual, destaca-se Nara, que vivenciou de perto os desafios da falta de representatividade feminina no mercado de trabalho, principalmente em cargos de liderança.
Avanços são significativos mas mulheres ainda precisam de resiliência para se manter no empreendedorismo
Apesar da forte presença das mulheres no mercado, desde 2015 faz parte dos Objetivos Sustentáveis apresentados pela Organização das Nações Unidas (ONU), a necessidade de políticas públicas que promovam um apoio ao empreendedorismo feminino. “Ainda há desafios a serem superados, mas estamos avançando. A presença de mulheres na tecnologia não é apenas uma questão de representatividade, mas uma necessidade para o desenvolvimento de soluções inovadoras e inclusivas para a sociedade”, destaca Cibele Giarrante, diretora de Recursos Humanos da Cirion.
Giarrante ainda dá uma dica bônus para aquelas que pretendem crescer na área: “Empoderamento e atitude são fundamentais para se destacar em qualquer setor. Por isso, preparem-se com formação técnica e não tenham medo de enfrentar novos desafios. Podemos superar todos os obstáculos”, enfatiza.
Seja por necessidade, vocação ou desejo de independência, elas estão moldando o cenário empreendedor brasileiro com criatividade e resiliência. A jornada, no entanto, ainda é marcada por obstáculos como a falta de representatividade e a sobrecarga com as tarefas domésticas. Com exemplos inspiradores como os de Loraine e Nara, fica claro que o sucesso no empreendedorismo feminino não segue um único caminho, mas exige determinação, inovação e, principalmente, uma rede de apoio para crescer e prosperar.
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