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Quando a diversidade se torna um produto, o verdadeiro progresso fica para trás

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Quando a diversidade se torna um produto, o verdadeiro progresso fica para trás

*Eduarda Camargo

Nos últimos anos, o Mês da Mulher se transformou em uma vitrine para empresas que desejam demonstrar seu compromisso com a diversidade. Homenagens, campanhas publicitárias e discursos institucionais tomam conta das redes sociais, reforçando a ideia de um mundo corporativo mais inclusivo. No entanto, ao observar a estrutura dessas organizações, surge a questão: essa valorização da mulher é genuína ou apenas uma estratégia passageira? A celebração, que deveria ser um marco de conquistas e avanços, muitas vezes se limita a uma ação simbólica, sem reflexos concretos na realidade cotidiana das profissionais.

A contradição fica ainda mais evidente quando, passada a euforia de março, os desafios enfrentados pelas mulheres no ambiente de trabalho permanecem inalterados. Empresas que exaltam a equidade de gênero raramente divulgam dados sobre remuneração, deixando sem resposta a dúvida sobre a equiparação salarial entre homens e mulheres para as mesmas funções. Muitas que promovem eventos sobre liderança feminina não garantem a presença delas nos espaços onde decisões estratégicas são tomadas. O reconhecimento feminino, quando ocorre, segue um roteiro previsível, restrito a pautas sobre inclusão, mas raramente sobre inovação, crescimento ou competitividade.

O impacto da diversidade nos negócios é inegável. Segundo um estudo da McKinsey, empresas com maior participação feminina na alta liderança são 25% mais lucrativas. Ainda assim, essa estatística raramente é mencionada fora do contexto de campanhas publicitárias. O efeito positivo da presença feminina na tomada de decisões não costuma aparecer nos relatórios de desempenho nem ser incorporado como um argumento sólido para transformar as estruturas organizacionais. Se a diversidade gera resultados concretos, por que esse discurso não se sustenta ao longo do ano?

Essa incoerência reflete um problema maior: a diversidade muitas vezes é tratada como um recurso de branding, e não como um valor fundamental. O reconhecimento do talento feminino continua preso a uma lógica sazonal, em que mulheres são lembradas apenas quando a narrativa corporativa exige. Muitas profissionais ocupam posições estratégicas e lideram projetos de grande impacto, mas suas conquistas raramente são celebradas fora do ciclo de homenagens temáticas. Enquanto isso, oportunidades de crescimento ainda são distribuídas de forma desigual, perpetuando um sistema que limita o avanço real da equidade.

A reflexão que as empresas deveriam fazer vai além do que postar durante o mês de março. O verdadeiro compromisso com a inclusão se mede pelas ações concretas

realizadas ao longo do ano. Quantas mulheres foram promovidas recentemente? Quantas estão envolvidas na formulação de estratégias de negócios? A presença feminina está distribuída em todas as áreas da empresa ou apenas naquelas tradicionalmente associadas a mulheres? Sem essas respostas, qualquer campanha de diversidade corre o risco de se tornar vazia, reforçando uma cultura onde a mudança é apenas aparente.

Se a equidade de gênero é um valor essencial, então ela precisa estar presente nas decisões diárias, nas políticas internas e na forma como o talento feminino é reconhecido e promovido. Transformar a diversidade em um produto de marketing sem sustentação na prática apenas perpetua a desigualdade e esvazia o significado da mudança que se pretende alcançar. A inclusão real não se faz com homenagens pontuais, mas com estruturas que garantam oportunidades e reconhecimento para as mulheres durante todos os meses do ano.

*Eduarda Camargo é Chief Growth Officer da Portão 3 (P3), uma plataforma de gestão de pagamentos para mais de 3000 empresas da América Latina.


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