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Startup WhatsApp-first: tudo se resolve com GenAI?

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Startup WhatsApp-first: tudo se resolve com GenAI?

Alguns anos atrás, quando surgia uma startup desenvolvendo soluções no WhatsApp, era comum ouvir a pergunta: “Você está construindo uma casa em terreno alugado. Por que fazer isso?”.

Hoje, com mais de 147 milhões de usuários é difícil encontrar alguém ou uma empresa que não tenha um canal no WhatsApp para atendimento — e, principalmente, para vendas. Não importa o porte da companhia, o nicho ou o nível de maturidade: todos (ou quase todos) estão lá. Algumas chegaram por necessidade durante a pandemia, outras nasceram nativamente na plataforma. Mas todas compartilham a mesma visão: “É onde o meu cliente está, e é fácil de usar!”

Agora, com a chegada da GenAI, parece ter surgido o encaixe perfeito: a oportunidade de escalar sem perder o toque conversacional de qualidade. Os chatbots ganham nova vida e, mais do que isso, destravam um valor adicional que atrai ainda mais startups a adotarem uma abordagem WhatsApp-first.

Sendo o Brasil um dos países com maior uso da plataforma, é natural imaginar que estaríamos entre os líderes mundiais em soluções para esse ecossistema. E estamos: diversos cases “made in Brazil” já ganharam o mundo.

As motivações para criar soluções nesta plataforma são claras. Mas qual é o trade-off por não ter uma solução proprietária? Será que o core de uma solução nativa no WhatsApp é simplesmente ser altamente conversacional?

Para estrear esta coluna, me aventurei a reunir alguns guardrails que podem ajudar a compor a decisão de construir (ou não) soluções no WhatsApp:

Usuário é sempre usuário

Parece óbvio, mas não é. Por mais que a plataforma seja a mesma para todos, cada usuário se comporta de forma diferente.

Alguns só mandam áudios (talvez você seja um deles :), outros preferem apenas GIFs, e muitos respondem apenas a primeira pergunta enviada.

Há quem use o app só para conversar com amigos e família, outros só para trabalho. Alguns transformam o WhatsApp em uma to-do list. Sem falar no uso para divulgar conteúdos, ler notícias, fazer chamadas…

Ou seja, entender como o seu cliente usa a plataforma é fundamental para saber como você deve interagir com ele.

Se você precisa comunicar várias informações importantes, será que enviar um “textão” é a melhor abordagem? Ele vai conseguir absorver tudo? E depois, será fácil encontrar aquela informação?

Adaptar o formato ao uso do cliente pode fazer toda a diferença.

Uncanny valley

O conceito foi criado por Masahiro Mori em 1970. Ele percebeu que mãos protéticas muito realistas causavam estranheza — a mesma sensação que tinha ao olhar bonecos de cera quando criança. O fenômeno, conhecido como “vale da estranheza”, descreve o desconforto que sentimos quando algo artificial tenta parecer humano, mas não consegue ser convincente.

Isso já pode ter acontecido com você em contato com algum chatbot ou SAC que tenta simular um humano, mas falha. E esse desconforto pode afetar diretamente a confiança — um ativo valioso em qualquer relação comercial.

Uma forma de evitar esse problema é ser transparente: assumir que é uma marca comunicando através de um atendimento automatizado, podendo até criar um personagem robô, mas que seja projetado para ser um robô com uma personalidade personificada, e não uma tentativa de “humano” que na prática tem a personalidade de um robô.

Brand intimacy é essencial para startups WhatsApp-first

Hoje, marcas que constroem relacionamentos fortes com seus consumidores aparecem com intenção e sem interromper o fluxo de valor. A lógica de menos intervalos e mais imersão domina os conteúdos.

Mas basta abrir o seu e-mail para perceber que nem todo mundo entendeu esse jogo. Resultado? Caixa de spam lotada, e ninguém mais quer abrir os e-mails. Só o volume de disparo já é suficiente para incomodar — e isso respinga na percepção da marca.

Se isso já é verdade no e-mail, imagine no WhatsApp, um espaço ainda mais íntimo. Logo, o cuidado com a frequência e o tipo de ativação precisa ser dobrado. Startups WhatsApp-first devem compreender que menos pode ser mais — e que criar “traumas” pode ser mais fácil do que parece.

Marketplace da atenção

Muitos acionamentos ou poucas notificações estratégicas? De um jeito ou de outro, todo mundo está buscando o mesmo ativo: a atenção do cliente.

Segundo o conceito da economia da atenção, o foco humano é um recurso limitado — e, por isso, extremamente valioso. Em um mundo saturado de informações, conquistar e manter essa atenção é um verdadeiro desafio.

No WhatsApp, isso fica ainda mais evidente. Se a atenção é o produto, podemos dizer que todos os players (conversas) estão competindo por ela num mesmo espaço. Parece um marketplace, certo?

Aprofundando essa analogia pode-se fazer alguns paralelos, imagine que:

  • O buscador do WhatsApp é como um mecanismo de busca;
  • O nome salvo do contato funciona como palavra-chave;
  • Conversas fixadas são como páginas favoritas;
  • Conversas arquivadas é a aba estratégica de fácil acesso;
  • Grupos de amigos se tornam uma espécie de review coletivo.

Neste marketplace da atenção, o desafio vai além de interagir bem. É ser priorizado. É fazer com que o cliente deseje manter seu contato à vista, de fácil acesso. Ser encontrado quando ele quiser.

Fluxo não determinístico

A limitação de não operar em plataforma própria não é novidade no mundo tech. Mas medir performance num ambiente essencialmente conversacional exige novas abordagens.

Começa pelo acesso: ao contrário de um login em app, o número de WhatsApp é volátil. Muitos trocam de número com frequência. Mesmo que o número esteja ativo, será que a pessoa ainda ocupa a função para a qual sua solução foi pensada (especialmente em B2B)?

Superadas essas barreiras, vem o desafio das respostas automáticas, que facilitam a vida do usuário — e dificultam o engajamento futuro.

Se você conseguiu ultrapassar esses obstáculos, parabéns: chegou ao ponto de ter acesso real. Mas como entender se sua jornada está clara, num canal onde sempre há um campo de texto aberto, pronto para qualquer input?

Monitoramento constante se torna essencial. Mapear onde o usuário “sai do fluxo” esperado exige trabalho intenso com semântica e estrutura de diálogo. Ainda assim, o imprevisível sempre será parte do jogo.

No fim das contas, ser uma empresa WhatsApp-first vai muito além de plugar um modelo GenAI com respostas eficientes. Trata-se de entender que o jogo mudou: agora, competir por atenção exige intimidade, respeito ao contexto do usuário e domínio de uma plataforma onde ele dita as regras. Escolher esse canal como pilar de uma estratégia não é apenas uma decisão técnica — é uma decisão de marca, que exige clareza sobre o que se quer construir, o quanto se está disposto a abrir mão e o que se está, de fato, buscando conquistar.


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O post Startup WhatsApp-first: tudo se resolve com GenAI? aparece primeiro em Startupi e foi escrito por Laerte Souza



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