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“O trabalho primário das startups não é demonstrar ROI massivo, é resolver um problema real”, diz executivo da AWS

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“O trabalho primário das startups não é demonstrar ROI massivo, é resolver um problema real”, diz executivo da AWS

Em um cenário tecnológico cada vez mais competitivo, startups de inteligência artificial enfrentam um dilema crítico: como inovar rapidamente sem perder o foco estratégico? E como sobreviver enquanto não atinge o retorno sobre investimento? Jason Bennet, Vice Presidente de Startups Globais e Venture Capital da AWS, contou em exclusividade ao Startupi durante o re:Invent 2025 sobre a sobrevivência do ecossistema de startups de IA e os caminhos para o crescimento sustentável.

Velocidade não é sinônimo de falta de foco

Quando questionado sobre startups em diferentes fases de maturação, que planejam lançar múltiplas ferramentas simultaneamente para se manterem competitivas, Bennet faz uma distinção crucial: “O que estamos vendo não é exatamente pivotagem sem foco—é expansão estratégica dentro de sua proposta de valor central.”

Segundo Bennet, o segredo está em garantir que todos os lançamentos sirvam à mesma necessidade do cliente ou resolvam o mesmo problema central. “Se uma startup está lançando múltiplas ferramentas que todas apoiam sua tese central—como a Writer construindo várias capacidades de agentes que servem à orquestração de IA empresarial—isso não é diluição, é profundidade”, explica.

O executivo alerta, no entanto, que a linha é tênue. A problemática surge quando startups perseguem casos de uso ou segmentos de clientes completamente diferentes sem ganhar tração em nenhuma área específica. “É quando os investidores começam a questionar se você encontrou o product-market fit”, afirma Bennet.

Sua recomendação para fundadores é clara: “Velocidade de execução importa enormemente agora, mas precisa estar pareada com clareza de missão. Se você consegue articular como cada lançamento contribui para sua visão central e está vendo sinais de adoção por clientes, investidores verão essa velocidade como uma força, não uma fraqueza.”

ROI e o desafio das startups em estágio inicial

O executivo não acredita na bolha da Inteligência Artificial, mas ressalta que mercados novos, apesar de se mostrarem promissores, podem sim assustar e afastar investidores e empreendedores. 

“Estamos há três anos nisso. E se você pensar nas indústrias, se pensar nas experiências, nos casos de uso horizontal, se pensar no nível não de ruptura, mas de criação de valor por trás disso, é realmente difícil. Muitas vezes, quando as pessoas falam sobre bolhas, elas estão falando sobre isso no contexto em que o investimento está muito acima do que será o retorno sobre o investimento (ROI). É difícil dizer com seriedade que o impacto da IA e da IA agêntica não será extremamente grande em praticamente todas as facetas da vida que temos hoje”, explica Bennett.

O especialista ainda afirma que, nem para todas as companhias, o ROI virá em formato de faturamento. “A realidade também é que, se você pensar nas discussões sobre bolhas, elas se concentram principalmente no capital que está sendo investido, e acho que a realidade é que o retorno desse investimento tem que ser experimentado por meio de aplicações, produtos e serviços”.

A conversa se aprofunda quando o tema se volta para retorno sobre investimento em startups que ainda não levantaram capital. Bennet reconhece que o cálculo é diferente para essas empresas: “Seu trabalho primário não é demonstrar ROI massivo—é demonstrar que você está resolvendo um problema real pelo qual os clientes se importam o suficiente para pagar.”

O executivo destaca que as ferramentas disponíveis hoje permitem que startups construam e operem muito mais rápido com menos capital. Serviços como Amazon Bedrock, créditos através do AWS Activate e ferramentas para desenvolvedores significam que empresas podem chegar ao produto mínimo viável mais rapidamente e com menor queima de recursos.

“Para a maioria das empresas em estágio inicial, foco é na verdade mais valioso do que diversificação”, enfatiza Bennet. Ele observa, contudo, que está havendo uma mudança real: algumas startups conseguem se manter bootstrapped por mais tempo porque podem construir mais com menos. “Mas isso ainda requer disciplina sobre onde você está gastando seu tempo e recursos.”

Mercados emergentes e o acesso a capital internacional

Um dos pontos mais sensíveis da entrevista aborda os desafios de startups em mercados como o brasileiro para acessar capital de venture capital internacional. Bennet demonstra familiaridade com o tema: “Isso é algo em que penso muito, particularmente quando vemos inovação incrível vindo de mercados como Brasil, Índia, Sudeste Asiático e outros—mas onde o capital local pode estar restrito.”

O vice-presidente da AWS oferece estratégias concretas para startups nessa situação:

1. Construir pensando em clientes globais desde o primeiro dia. “Mesmo se você está lançando no Brasil, se consegue demonstrar que sua solução funciona para clientes nos EUA, Europa ou outros mercados, isso torna a oportunidade muito mais interessante para investidores internacionais.”

2. Aproveitar aceleradores e programas com alcance global. Bennet cita o programa de aceleração de IA generativa da AWS, Y Combinator e Techstars como exemplos de iniciativas que criam caminhos para redes de investidores internacionais.

3. Buscar apresentações calorosas. “Não posso enfatizar o suficiente o quanto isso importa”, diz Bennet. “VCs recebem centenas de e-mails frios. O que funciona é uma apresentação calorosa de outro fundador que eles apoiaram, de uma aceleradora em que confiam, ou de um parceiro estratégico como a AWS.”

4. Contar uma história convincente com dados. VCs internacionais querem ver que você entende sua economia unitária, custos de aquisição de clientes e métricas de retenção. “Eles querem ver que, mesmo se seu mercado é menor hoje, o problema que você está resolvendo existe globalmente”, explica.

5. Considerar construir em ambientes que priorizam o inglês. Embora reconheça que isso pode ser controverso, Bennet observa que startups que se posicionam como global-first desde o início—mesmo estando baseadas em São Paulo ou Mumbai—têm mais facilidade em acessar capital internacional.


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O post “O trabalho primário das startups não é demonstrar ROI massivo, é resolver um problema real”, diz executivo da AWS aparece primeiro em Startupi e foi escrito por Cecília Ferraz



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